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Acervo virtual

Através de conversas com professores e ex-estudantes do antigo Departamento de Artes Cênicas da UNIRIO, nosso acervo reúne fotografias de objetos, seguidas dos seus respectivos depoimentos orais coletados durante a pesquisa do projeto que foi realizada entre agosto e dezembro de 2021. Esta é uma primeira etapa do projeto que conta com depoimentos de Ângela Leite Lopes, Elza de Andrade, Fátima Saadi, José Dias, Lucila de Beaurepaire, Mara Souto, Mary Habib e Tânia Brandão. 

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"Esse aqui é o pôster do prédio, que fiz de uma foto tirada num dos dias da vigília. Aqui do lado (lado esquerdo) tem uma aluna do Centro Acadêmico da Economia da UFRJ - Campus da Praia Vermelha, chamada Inês Patrício, então militante do PC do B. Esse daqui (lado direito) é o Luiz Fernandes, ele era da cúpula do PC do B, lá de Brasília, trabalhava com Aldo Rebelo (o Aldo foi presidente da UNE, ele era do PC do B). E aqui (lado direito), é o pessoal da PUC... Aqui é a varanda que eu falei, a parte de Música funcionava aqui (primeiro andar), saguão e palco (segundo andar) e as salas de ensaio (terceiro andar) e aqui no meio tinha uns meio andares que tinham umas salinhas...Isso aqui era uma "cachaça"! Você subia um vão, tinha uma salinha que era a secretaria, um outro lance e você chegava no saguão, aí tinha um corredor que chegava no palcão e antes de cair no saguão havia outra escadinha que chegava no cenotécnico."



Objeto do acervo pessoal de Mara Souto.
Depoimento coletado em agosto de 2021 por Vanessa Dias. ​
Foto de Vanessa Dias.

"Esse aqui é o famoso caderninho de controle. Está escrito aqui em cima: Controle de Entrada e Saída. Porque a gente fazia rodízio de vigília, a gente ficava em vigília, se encontrava no CEU (Casa do Estudante Universitário) e também ficava na frente do prédio da Escola de Teatro. Aí eu fiquei com o cargo de Relações Públicas do grupo. Eu guardei esse caderninho...(Mara lê anotações no caderno) "Comissão na ABI, com Barbosa Lima Sobrinho, às 15h" com quem a gente teve encontros... "Comissão no Clube da Engenharia", a gente foi lá... "Diretoria da UNE" com quem nós fizemos contatos... "Glaucia saiu às 17 horas" - Olha aqui o nome da Glaucia! Tem os nomes de todas as pessoas que passaram por lá, tem o nome do Orlando Miranda do Serviço Nacional de Teatro, o Aldomar Conrado que era nosso professor, o Luiz Carlos era presidente do nosso Centro Acadêmico, Pernambuco¹ chegou às 18 horas... Pedro Tornaghi... Tânia... Tem os nomes de todos nós que participamos, enfim... A vida do povo tá aqui, tem tudo que nós estávamos fazendo. A data que está aqui é março de 1980. Deixa eu ver a primeira data...Eu não botei o dia... Eu botei contatos, entradas e saídas, horários, isso tudo foi feito muito no desespero, a gente desesperado catando advogado pra tentar impedir a ação deles. Quando a gente soube que iam demolir, nós ficamos desesperados, cada um tentando fazer os contatos mais representativos pra impedir a demolição: a imprensa, O Globo, JB, Rádio Capital, TVE, Última Hora, programas de TV e rádio que fizeram entrevistas com a gente. Também o Teatro Relâmpago que a gente ia pra rua denunciar o que acontecia..."



¹ Pernambuco de Oliveira, professor e diretor da UNIRIO.

Objeto do acervo pessoal de Mara Souto.
Depoimento coletado em agosto de 2021 por Vanessa Dias.
Foto de Vanessa Dias.

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"Olha o estado da pastinha! Essa aqui foi a pasta que a UNE fez na reconstrução do movimento, foi importante a representatividade dela nos encontros. E aí eles abraçaram muito tudo o que aconteceu com a gente, por conta disso: porque o prédio era um símbolo, mesmo a UNE não voltando pra lá... Aqui tem o papel com o programa de recepção dos calouros e foi um movimento que a gente começou com o Centro Acadêmico, era a recepção que a gente tinha preparado pros alunos que iam começar os cursos. Tudo na época que poderia ter relação com a gente, eu ia guardando. Todo esse material veio a partir das reuniões que foram feitas no CEU."

Objeto do acervo pessoal de Mara Souto.
Depoimento coletado em agosto de 2021 por Vanessa Dias.
​Foto de Vanessa Dias.

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"Esse cartaz do Vianinha¹ estava na parede do Centro Acadêmico e deve ter sido alguém da ditadura que passou, riscou com um Pilot vermelho e fez um traço na cara do Vianinha. Dá pra ver do lado que tinham escrito 'Procura-se vivo ou morto'. Antes de isolarem a gente no palcão, eu consegui ir na sala do Centro e peguei esse cartaz, depois a gente ficou meio que isolado lá no palcão sem poder sair. Já eram quase seis horas da tarde e daí o Pernambuco veio para descer com a gente. Eu cheguei lá por volta de uma hora porque a gente ia ensaiar O grito parado no ar. Quando eu cheguei, a gente foi pro Centro Acadêmico, estávamos preparando a peça pra recepção dos calouros, né? Quando começou um murmurinho: polícia, um entra-sai... Não sabíamos o que estava acontecendo e falaram que a gente não podia mais entrar nem sair. Em determinado momento só podia sair, depois não podia mais ninguém entrar (...) Ficamos só nós no palcão e a gente falou que não ia sair. Sabe que eles até fizeram um corredor polonês, saindo da porta principal do palcão descendo pelas escadarias, fazendo um corredor mesmo até a porta da saída. Foi aí que a gente começou as manifestações, a gente chamou os Centros Acadêmicos, os DCE's, quer dizer, todo pessoal que já tava envolvido com as Universidades, com a UNE e tudo mais... Porque na verdade essa demonstração de força foi no final da ditadura, porque lá funcionava uma Escola de Teatro, não era mais o CPC², não era mais a UNE, então não tinha sentido essa demonstração de força... A gente não era uma ameaça, mas o símbolo do prédio era uma ameaça muito grande. Daí a gente saiu de lá e eu na época tinha comprado um Chevettinho usado, aí a gente foi correndo achar advogado, telefonando, entrando em contato... Aí eu fui na casa do Matta Machado - advogado que concordou em ir lá defender a gente e entrar com um processo pra eles pararem com aquele despejo do Centro de Artes e a demolição. A gente teve muito apoio do Marcelo Cerqueira, incluindo o episódio do juiz Aarão Reis que foi lá pra parar a demolição - ele entrou no prédio e subiu no telhado com uma arma em punho para impedir a demolição... Nisso a gente já estava acampado ali na Rui Barbosa, na Casa do Estudante Universitário, o CEU."

¹Oduvaldo Vianna Filho
²CPC - Centro Popular de Cultura


Objeto do acervo pessoal de Mara Souto.
Depoimento coletado em agosto de 2021 por Vanessa Dias. ​
Foto de Vanessa Dias.

 

“Esse objeto¹, a gente comprou branco, bem baratinho e aí ele (o cenógrafo Ricardo Ferreira), ele fazia tudo: cenário, figurino e ajudava na luz. Era um excelente parceiro pintou. Fez essa pintura que eu acho uma graça e tem as duas xícaras e o açucareiro.  Isso era usado em cena. Ele fazia o pai, era ótimo trabalhar com ele como ator, porque ele tem essa coisa assim doente né, dele ser detalhista, dele ser obsessivo, então nós temos essa estrutura neurótica muito parecida, então a gente conversa muito bem.” 

¹Objetos do acervo pessoal de Tânia Brandão. Ano do bule: 1977. Objeto utilizado na montagem de cena de Terror e miséria do terceiro Reich, de Bertold Brecht.

Depoimento coletado em outubro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de Tânia Brandão.

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“Fiz uma cena do Galileu¹, discutindo o impasse do conhecimento, da pesquisa, da ciência diante duma sociedade que não quer conhecimento, que tem um poder autoritário, que é aquela belíssima cena do Galileu em que ele vai, inclusive, tentar mostrar que descobriu um satélite novo e aristotelicamente não poderia existir porque não dava. Então é esse esquema que o Ricardo fez pra mim, ele tá amarelíssimo... É incrível isso. Eu usava muito pra dar aula, os alunos ficam loucos com isso. Isso daqui é o espaço finito, é o universo aristotélico ptolomaico, são os céus de cristal que você olha é transparente porque é de cristal, etéreo, então aqui tá a Terra no centro do universo e aqui tem o sétimo céu e aqui é o céu final, que é o céu habitáculo de todos os eleitos. Tá aqui COELVM EMPIREVM HABITACVLVM DEI OMNNM ELECTORVM. O céu é chamado empyrium, que é o céu maior no sistema aristotélico ptolomaico, que é um sistema fechado, não é infinito, não tem infinito, o universo não é infinito, nele todos os astros são fixos, que é muito o esquema que a astrologia segue né? Os signos, não sei o quê, que estão num sistema fechado. Aí eu fiz isso, pedi pro Ricardo desenhar, eu copiei isso de um livro, numa escala pequenininha e ele fez assim grande pro ensaio, isso acabou não aparecendo em cena. Mas o Galileu explicava, criticava, demolia esse sistema ensaiando, falando pro Andrea e pra senhora Sarti, usando esse mapa, esse sistema aqui. E aí eu fiquei com ele pra mim e usava pra dar aula, eu dava aula em escola, e depois em Escola de Teatro eu usava isso né? Pra explicar Shakespeare, pra explicar a passagem da Idade Média pro Renascimento e tal, eu usava muito, realmente foi muito, muito, muito usado.”

¹A vida de Galileu é uma peça de Bertold Brecht de 1943.

Objeto do acervo pessoal de Tânia Brandão.
Depoimento coletado em outubro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de Tânia Brandão

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“Essa foto¹ foi feita exatamente no dia da expulsão. Estou com uma cara completamente apatetada, não acreditando no que estava acontecendo. Neste dia eu encontrei o então decano do Centro de Letras e Artes,  Pernambuco de Oliveira, que estava muito nervoso, andando de um lado para o outro, pasmo, como todos nós. Essas pessoas são alunos da Escola e populares que se juntaram ali para acompanhar o que estava acontecendo.”

¹Objeto do acervo pessoal de Lucila de Beaurepaire. Data da foto: 13 de março de 1980.

Depoimento coletado em agosto de 2021 por Vanessa Dias. Foto de autoria desconhecida.

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"Essas fotos que te mandei foram da primeira peça que eu fiz do Martins Penna (Juiz de Paz na Roça). Inclusive eu apareço ali na foto, no dia que eu tava pintando e montando o espetáculo. Quem tirou a foto eu não me lembro, eu pedi pra tirar, talvez tenha sido até minha máquina, com filme pago por mim e eu mandei fazer as fotos. E eu tenho as máscaras que eu fiz, porque era um momento tão horrível. A gente também fez um espetáculo¹ em cima de Goya², com aqueles dramas, nós fizemos umas máscaras lindas pros atores botarem, mas eu não achei porque acho que deixei no meu atelier como referência de artesanato. Tem umas fotos… A gente era tão aculturado que só usava autor brasileiro, a gente fazia Martins Penna, Plínio Marcos, peças de Boal… A gente era muito patriota. Nós, quando fazíamos estes trabalhos, éramos todos quem faziam: direção era aluno de Direção, a Cenografia era aluno de Cenografia e por aí vai... Eu tenho a impressão de que era um ano e meio de básico e depois a gente ia pras matérias específicas, mas as práticas era feito o agrupamento das áreas... Então nesse ano era eu, uma menina e um menino... Cenografia ninguém queria fazer... Eu terminei a faculdade e eu era a única aluna. No dia da expulsão, eu cheguei alienadona porque eu dava aula lá na Barra, cheguei na faculdade, tava aquela polícia na porta, armada até os dentes. Eu achei aquilo normal em termos, porque naquela época tinha muito crime e muito estupro ali na praia do Flamengo, então eu achei que era alguma morte de alguma menina. Eu, muito alienada, vinha lá da Barra e ia pra faculdade batida porque eu era a única aluna. Tinha pai que ia buscar aluno às cinco horas e minha faculdade começava às seis da tarde. Então eu vinha batida. (...)

(...) Nisso eu chegando na porta, aquela porra de um monte de policia, eu falei 'Dá Licença!', pra entrar...E eles disseram:

- Não pode entrar! 

- Que num pode entrar, cara! Meu professor tá na sala sozinho me esperando, é o Anísio Medeiros!

Mas eles não davam satisfação porque não podiam entrar e eu muito teimosa e nervosa de estar faltando a aula, eu continuei na porta tentando saber, mas a maioria já estava lá dentro. E aí começou a catástrofe... Começou a descer o reitor desmaiado, carregado, Pernambuco de Oliveira teve quase um piripaque coitado, era um cenógrafo - um homem maravilhoso - veio carregado. O Lafond³, que era aquela bicha negra enorme, a gente andava quase nu na faculdade. Lafond usava aquelas tangas super apertadas e com aquela capa, isso antes daquele dia ele já andava assim, ele tinha uma capa de plástico vermelha igual de chapeuzinho vermelho, de botas, parecia que ia ter um show de drag. Quando eu vi Lafond descendo aos berros: 'Só saio quando a TV Globo chegar!' e a polícia querendo arrancar ele pelos cantos e ele com as botinhas se debatendo... Gente, que porra é essa! Aí que eu começo a saber: eles tão expulsando a gente da faculdade! Que vá pro caralho! Eu tinha vindo direto do trabalho, então eu tinha coisas guardadas no armário, eu tinha um maiô de ballet, que eu transei ele todo, porque aqueles maiôs eram grosseiros e eu cavei, bordei no peito flores, botei ele decotado em asa delta, porque eu fazia aula de expressão corporal…"


¹Este espetáculo não era Juiz de Paz na Roça, mas sim outra peça que Mary não se lembra o nome.
²Francisco de Goya, pintor espanhol.

³ Jorge Lafond foi ator de Teatro e Televisão.


Fotos do acervo pessoal de Mary Habib.

Depoimento coletado em novembro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de autoria desconhecida.

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"E o pior, como a gente foi expulso, a gente não tinha mais a escola preparada pros cursos, a gente foi parar na faculdade de Medicina. A gente ficava sentada no jardim da faculdade, eu jogava I Ching (risos) que era muito moda na época, esse livro é da época. Eu ficava jogando I Ching com meus amigos pra saber o que ia acontecer, o que o I Ching mandava de mensagem. Porque o prédio ainda não tinha sido demolido, então a gente tinha esperança de que a gente ia poder voltar. E a gente ficava ali conversando: cara, como que a gente tá perdendo aula, de adereço, figurino, desenho, de tudo! A gente tinha uma biblioteca maravilhosa, a gente não tinha tanto acesso a livros importados como tem agora, caros, mas que vem e a gente tem a facilidade de ter os livros. Naquela época não. E tinha um banco de peças, tinha todas as peças de Teatro, Shakespeare e a gente comprava como xérox pra gente fazer nossas montagens... Trabalhos da Bárbara Heliodora - e ela era tão boa professora. Ela era professora em São Paulo e no Rio. Ficava pra lá e pra cá... Você acredita que ela lia todos os trabalhos? Aí ela dizia assim: “Foi fulana que fez e sicrana, fulana e beltrana que copiou dela. Então vai ser assim: cada um vai pegar um texto diferente. Vocês tem que ler, ler, ler! Porque se não, não vai aprender! Vocês precisam ler dramaturgia e poder me contar a história que vocês leram! Vocês vão ler pensando numa montagem, então vocês tem que anotar, saber como vocês vão vestir o personagem, que objeto vocês iam dar a este personagem, o que teria na casa dessa pessoa.” Ela gostava de ler “o que”, qual era a cultura daquela pessoa."

Acervo pessoal de Mary Habib. Depoimento coletado em novembro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de Mary Habib.
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"Aí a gente tinha sala de adereço, sala de pintura, sala de tudo. A gente mesmo confeccionava um abajur. Eu tenho até hoje os pincéis que eram da época, eu achei meus pincéis velhos, imundos, que eu pintava, a capinha que eu usava, olha a imundice! Eu botava isso assim, em cima da roupa e pintava o cenário, os adereços, eu que costurava a cortina, o abajur, a gente realmente aprendia."


Acervo de Mary Habib. Depoimento coletado em novembro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de Mary Habib.
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"Esse cartaz também foi feito por um aluno daquela foto da peça de Martins Penna. A gente fazia tudo mesmo, completinho, cartaz, convite, cenário, figurino. Depois eu fiquei até na dúvida, eu falei: será que eu deixei figurino pra alguém? Mas não, a gente quando estudava, a Cenografia era uma Direção de Arte, era Cenografia, Figurino e Produção de Arte, material de cena né. Então foi antes da invasão, o trabalho realizado no palcão, feito pelos alunos, era a prática da faculdade. Tá meio desgastado porque isso deve ter sido em 1979 ou 1978, não sei..."

Acervo de Mary Habib. Depoimento coletado em novembro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de Mary Habib.
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"Esse é um material do diretório, não é um livro de ata, são umas folhas soltas com matérias de jornais coladas sobre o diretório acadêmico no período de 1954, são folhas de jornais como Correio da Manhã, o jornal Imprensa Popular, Diário de Notícias, Diário Carioca, O Globo e outras folhas do diretório Centro Acadêmico Itália Fausta que falam sobre o Ensino de Teatro no Brasil. Depois disso, achei também o diploma de melhor ator, dado pelo conservatório ao Stênio Garcia, assinado por todos os professores do Conservatório Nacional de Teatro. Neste período, em 1954, Santa Rosa era o diretor do Conservatório de Teatro. Quando eu¹ e Pernambuco de Oliveira inauguramos o novo prédio da Escola de Teatro, ali na Av. Pasteur, em homenagem a ele, demos o nome Santa Rosa ao prédio da Cenografia.”

¹
José Dias era professor da Escola e chefe de departamento desde 1972.

Acervo pessoal de José Dias. Depoimento coletado em outubro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de José Dias.
“O fotógrafo é Ney Robson. Na foto: Henriette Morineau, Fátima Saadi e Ângela Leite Lopes. A foto é provavelmente de junho ou julho de 1981. Uma coisa que esqueci de contar é que as aulas começavam às 18:30h e o prédio da Praia do Flamengo tinha uma sacada de onde era muito lindo ver as luzes do Aterro se acenderem. Sempre dava vontade de cantar a música do Caetano: "Os automóveis parecem voar / Os automóveis parecem voar"¹, na qual ele se refere também ao Aterro como "frio palmeiral de cimento".”

¹Trecho da canção Paisagem útil de Caetano Veloso.


Acervo de Fátima Saadi. Depoimento coletado em outubro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de Fátima Saadi.
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“Escaneei dois trabalhos meus para o Yan Michalski com os respectivos comentários dele e a nota que me deu. São eles: um panorama do ano de 1977 e uma entrevista. A entrevista com o aluno-diretor José Mário Tamas, pode dar a você uma ideia de como eram as montagens curriculares de fim de semestre, que reuniam alunos de todos os departamentos da Escola. A variedade de trabalhos que o Yan nos dava visava a nos preparar para as diferentes possíveis tarefas de um crítico ou um jornalista especializado em Teatro.”


Acervo de Fátima Saadi. Depoimento coletado em outubro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de Fátima Saadi.
“Achei esse caderno... Eu escrevo muito diário, então esse caderno é na verdade um diário que eu fiz de uma viagem pelo rio São Francisco. Aí na volta, fui usando para anotações diversas, por exemplo, “Rio, 12 de março de 1977. Hoje de manhã deveria ter tido problemas brasileiros, não houve aula.” E depois  “Ler Hamlet.1° Ato.” Depois tem uns apontamentos para um trabalho meu sobre  o herói trágico. E são coisas assim que eu tenho da Escola de Teatro, não forçosamente do dia da nossa expulsão do prédio da Escola de Teatro na Praia do Flamengo… Então esse é um caderninho que eu levei nessa viagem maravilhosa que eu fiz, saí de Pirapora e fui até Juazeiro num vapor, né, aquele vapor do rio São Francisco... Depois segui até Belém e desci pelo litoral. Então tem anotações minhas da viagem, mas também da volta, rascunho de outros trabalhos: a experiência viva do Teatro, o Teatro do Oprimido de Boal... Tá tudo misturado com umas anotações pessoais minhas.”


Acervo pessoal de Ângela Leite Lopes. Depoimento coletado em outubro de 2021 por Vanessa Dias. Foto de Ângela Leite Lopes.
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"Ela na verdade não é minha, era do meu pai que escrevia muito nela e eu acho ela uma preciosidade porque...Por exemplo, agora que eu fui fotografar, eu tirei ela de dentro de uma caixa de couro e ela me dá a impressão de nova. Todos os metais estão brilhando, não tem uma ferrugem... E quando eu digo que ela é do meu pai, ela tem mais de 80 anos. Meu pai, se fosse vivo, teria mais de 100 e eu tenho a lembrança do meu pai praticamente escrevendo diariamente nessa máquina de escrever. Depois quando eu entrei até mesmo pra escola, principalmente no segundo grau - no meu tempo se falava segundo grau e hoje em dia se fala ensino médio - vários trabalhos eu fiz nessa máquina, catando milho (risos), depois fui melhorando. Quando entrei pra Escola de Teatro - sem dúvida - todos os trabalhos escritos de História do Teatro, eram feitos nesta máquina. Eu aprendi a escrever nessa máquina, que eu passei a dividir com meu pai. Sempre com muito cuidado, porque ele tinha muito cuidado com ela, tanto que 80 anos depois ela tá perfeita, ela funciona. Talvez a única dificuldade seria encontrar hoje a fita. Talvez não fabriquem mais essa fita que corre de um lado pro outro. Mas fiz muitos trabalhos, eu gostava de entregar trabalhos batidos à máquina e, olha, quando entrei também pra graduação da UNIRIO, eu usava essa máquina. Eu só comprei o meu primeiro computador no mestrado em 1996, porque aí já era muito, muito material e eu não dava conta só com a máquina de escrever, precisava realmente do computador com os arquivos... Mas eu guardo essa máquina com maior carinho, não só pela lembrança do meu pai, mas por tudo que eu escrevi, tudo que fiz nela e me impressiona muito a durabilidade dos objetos de antigamente, eles foram feitos, realmente, pra durar a vida toda e com qualidade! É impressionante! Ela brilha! É impressionante! Se um dia eu tiver uma casa um pouquinho mais arrumada, eu vou colocar ela como um enfeite, comprar uma mesinha e colocar ela com o retrato do meu pai. Tenho muito carinho por ela."

Depoimento de Elza de Andrade em dezembro de 2021. Depoimento coletado por Vanessa Dias. Foto e objeto de Elza de Andrade.
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"Eu tenho uma máquina de costura linda, das antigas, é aquela que não existe mais. Essa máquina eu não me desfaço dela de jeito nenhum... Na época em que eu entrei (na UNIRIO) se chamava FEFIEG - Federação das Escolas Federais Isoladas do Estado da Guanabara - aí depois virou FEFIERJ - do Estado do Rio de Janeiro. Na época que eu entrei eu fiz um cursinho, um pré-vestibular, porque eu era muito crua e aí eu resolvi entrar no final de 1969, quem dava aula era o Zeca Ligiéro. Então eu fiz esse cursinho com o Zeca e, assim, a gente tinha a mesma idade, e ele dava aula lá. A gente fazia o curso e pra dar uma força, e depois fazia o THE, aí eu fui aprovada e entrei no início de 1970. Era diferente da UNIRIO, não era um sistema de crédito, eram turmas: primeiro ano, segundo ano e terceiro ano. Sistema de crédito foi um sistema criado com a ditadura, era uma maneira de tirar força do estudante. O estudante que tem uma turma, que segue junto com uma turma, ele se torna muito mais forte, consciente, presente do que esse estudante que cada hora tá com uma turma diferente. O sistema de crédito é um sistema que desagrega que veio com a ditadura e que tá aí até hoje. E é verdade, se você pensar qual é a sua turma...(gesto de interrogação). Você estuda com tanta gente, por um lado é legal, mas por outro você não tem a força da turma. Aquela turma de 20, 30 que se reúne e que sai pra rua, sai pra manifestação. Era uma maneira de desagregar isso, mas eu fiz os três anos ainda dentro de uma turma, depois acabou isso. Antes de ser a Escola de Teatro era a UNE (União Nacional dos Estudantes) e no início da ditadura os estudantes eram muito fortes, nunca mais foi como naquele tempo. Nunca mais. Fortes. Era um pessoal que não tinha medo de nada, ia pra rua, era preso, torturado, assassinado... Tá tudo tão longe né... Se você fizer um levantamento disso, você vê que a maior parte eram estudantes. Eles eram muito poderosos. E aí quando começou a ditadura, acabou a UNE, ela foi totalmente desarticulada e colocaram a faculdade de Teatro ali, um pouco pra: "Ah, são os artistas, os maluquinhos, os hippies". Era a época do hippismo nos Estados Unidos e isso veio pra cá. Claro que era o hippie de classe média, não tinha hippie pobre, e essa moda prevalecia na escola o tempo todo que eu fiz. E era assim, não tinha uma revista pra você copiar, pegava uma blusa velha, costurava, saía e tava lindo."

Acervo pessoal de Elza de Andrade. Foto de Elza de Andrade. Depoimento coletado em outubro de 2021 por Vanessa Dias.

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